PREGANDO A VERDADE: 2 de jul. de 2025

quarta-feira, 2 de julho de 2025

A LOUCURA DE UM LEVITA - Uma História Terrível.


Os levitas eram descendentes de Levi, um dos doze filhos de Jacó. Eram a única tribo de Israel que não tinha terra em Canaã. Ao invés de trabalharem a terra, eles tinha que viver e trabalhar para o tabernáculo e na adoração a Deus, eles eram sustentados com dízimos e ofertas do resto do povo (Nm 18:20-24). Os sacerdotes eram levitas que descendiam de Arão (Nm.3.10), enquanto que o resto dos levitas assistiam aos sacerdotes no serviço do tabernáculo. Os levitas eram considerados por Deus como consagrados para este serviço e ministério (Nm.3.5-13) e tinha uma responsabilidade especial de servirem a Deus juntos com os sacerdotes e o sumo sacerdote. 

Os últimos três capítulos do livro de juízes registram acontecimentos relacionados a um levita e sua concubina. O que começou como um conflito doméstico terminou em tragédia nacional. 

O que seria uma concubina? Um segunda esposa adquirida por compra ou como cativa de guerra, e era permitido numa sociedade poligâmica. Uma concubina era essencialmente uma escrava que não era uma prostituta, mas também não era uma esposa no sentido completo do termo. Era uma esposa de segunda classe. É por isto que nesta passagem o levita é chamado de senhor de sua concubina (Jz 19:27), mas também de seu marido (19:3). O que vemos aqui em Juízes é que um levita, que deveria permanecer santo, foi moldado pela cultura pagã em torno, comprando uma concubina e tratando-a como uma peça de sua propriedade. 

O LEVITA E SUA CONCUBINA.

O fato de um levita ter uma concubina reflete um rebaixamento do padrão estabelecido por Deus para a vida conjugal dos levitas (Lv.21.7,13-15; Ez.44.22). Para piorar a situação, a mulher aborrecendo-se dele, o deixou e tornou a casa de seu pai (Jz.19.2). A expressão "aborrecendo-se dele" também pode ser traduzida por "lhe foi infiel" (NVI). Em vez de tomar a medida prescrita na Lei, a saber, o divórcio (Dt.24.1), o levita a seguiu até a casa do pai dela em Belém, no território de Judá, e conseguiu persuadi-la a voltar com ele (Jz.19.3,4). O levita e seu sogro desenvolveram um relacionamento cordial, e o casal só partiu no quinto dia (Jz.19.5-10). A decisão de sair de Belém tão tarde foi imprudente, pois obrigou os viajantes a pernoitar em algum lugar antes de chegar ao destino final.

A CONCUBINA DO LEVITA É ESTUPRADA E MORTA.

Quando o levita, a concubina e o servo com seus dois jumentos se aproximaram de Jebus (Jerusalém), a cerca de dez quilômetros de Belém, o servo sugeriu: Caminhai, agora, e retiremo-nos a esta cidade dos jebuseus e passemos ali a noite (19.10,11). * Isto confirma que Jerusalém ainda estava nas mãos dos jebuseus quando este incidente ocorreu (1.21). Influenciado pelo medo de estrangeiros desconhecidos, o levita resistiu ao conselho do servo e viajou mais sete quilômetros até Gibeá (19.12), cidade benjamita. Infelizmente, seus compatriotas israelitas se mostraram descorteses e pouco hospitaleiros.

Em circunstâncias normais, era perigoso para qualquer viajante passar a noite na praça da cidade, mas o levita parecia não ter outra opção, pois ninguém se havia oferecido para hospedá-lo (19.15). Porém, um israelita que não era da tribo de Benjamim, um homem velho, da região montanhosa de Efraim, parou na praça e conversou com o levita (19.16,17). Ao descobrir de onde os viajantes eram e para onde estavam indo, ele os recebeu em sua casa. Apesar de o levita e seus acompanhantes estarem preparados para passar a noite na praça (de coisa nenhuma há falta... 19.19), o velho não permitiu que lhe negassem o privilégio de acolhê-los em seu lar. É provável que soubesse do comportamento de alguns habitantes da cidade, pois advertiu: Tão somente não passes a noite na praça (19.20). O levita aceitou o convite, e todos tiveram uma noite agradável, comendo, bebendo e, provavelmente, conversando, pois o levita era da mesma região de Efraim que o velho (19.21,18). 

Infelizmente, os momentos agradáveis duraram pouco, pois alguns homens perversos da cidade cercaram a casa e exigiram manter relações sexuais com o levita. Ao que parece, a homossexualidade era comum entre os cananeus, mas Deus proibiu essa prática expressamente: "Com homem não te deitarás, como se fosse uma mulher; é abominação" (Lv.18.22). Esse pecado é chamado de "sodomia" devido a práticas semelhantes comuns na cidade de Sodoma que, juntamente com Gomorra, foi destruída por causa de sua perversidade, exemplificada pelo episódio descrito em Gênesis 19.1-8.

A atrocidade moral dessa época fica ainda mais evidente quando, na tentativa de proteger o hóspede, o velho oferece sua filha virgem e a concubina do levita para serem usadas pelos homens perversos, como lhes aprouvesse (19.23,24). Por sua vez, o velho e o levita, em vez de agirem como homens honrados defendendo as mulheres dentro de casa, deixaram que a concubina fosse estuprada. O texto não especifica quantos homens atacaram a concubina, mas diz que eles a forçaram e abusaram dela toda a noite (19.25), e, consequentemente, pela manhã ela estava morta (19.26-28).

A CONCUBINA É DESMEMBRADA PELO LEVITA EM DOZE PARTES.

Essa história repulsiva apresenta vários elementos chocantes, a começar pela falta de hospitalidade para com um compatriota israelita (19.15), seguida de uma tentativa de sodomia (19.22). Também causa espanto a atitude do velho ao oferecer sua filha virgem para ser abusada (19.24); apesar de, no fim das contas, ela ter sido poupada e, obviamente, o estupro e a morte da concubina (19.25). Porém, o que provocou mais repulguinação foi o gesto do levita ao desmembrar sua concubina morta em doze partes, uma para cada tribo israelita, e destribuí-las pelas regiões de Israel como uma convocação (19.29), caso este que lembra uma atitude do rei Saul quando partiu um boi em doze partes enviando para as doze tribos de Israel, convocando-os para uma guerra (I Sm.11.6,7).

É possível que, diante da falta de um governo central e de juízes, o levita tenha considerado que esse ato repulsivo seria a única forma de obrigar as outras tribos a tomar uma providência. Sua tática funcionou, pois chamou a atenção de todos (19.30) e levou a nação inteira a reagir: "Todo o povo se levantou como um só homem" (20.1,8,11). Somente os benjamitas não se manifestaram (20.3). Talvez a tribo a qual pertenciam os criminosos não tenha recebido nenhuma parte do corpo da concubina e duas partes tenham sido enviadas à tribo de Manassés, uma para os habitantes a leste do Jordão e outra para os habitantes a oeste do rio. 

Na conclusão dos fatos, esta história termina com uma guerra entre os israelitas e os benjamitas (20.1-48). O capítulo 21, o final do livro de Juízes, narra a história da restauração da tribo de Benjamim (21.1-25). O escritor termina o livro dizendo:"Naquela época não havia rei em Israel; cada um fazia o que lhe parecia certo". 

Apesar de o período de juízes ter sido marcado por apostasia religiosa, atrocidade moral e anarquia política, ainda havia uma noção geral de justiça e unidade nacional, e os israelitas mantiveram sua identidade como povo resgatado da terra do Egito (19.30).

(Texto extraido do Comentário Bíblico Aflicano).

* Obs.: Com alguns acréscimos articulados por Geraldo Barbosa, autor do Blog.