quarta-feira, 2 de setembro de 2020

AITOFEL, DE CONSELHEIRO DO REI A REBELDE.

 

Aitofel era conselheiro do rei. Husai, o arquita, era amigo do rei (I Cr.27.33).

Naquela época, tanto Davi como Absalão consideravam os conselhos de Aitofel como se fossem a palavra do próprio Deus (II Sm.16.23 NVI). 

O reinado de Davi foi prospero e bem sucedido, até enquanto ele não cometesse um grande delito diante de Deus e de toda a nação de Israel. Após Davi ter pecado gravemente, cometendo um homicídio, mandando matar seu fiel escudeiro Urias; e um adultério, com Bate-seba mulher de Urias, o seu reinado entrou em decadência. Deus perdoou o pecado de Davi, mas as consequências do seu pecado foram inevitáveis. Uma das tragédias que aconteceu no reinado de Davi, foi a rebelião do seu próprio filho Absalão, juntamente com o seu conselheiro de confiança, Aitofel. O final da história de Davi, poderia ter sido diferente, se ele não tivesse que pagar pelo grave pecado que cometeu. 

A essa altura da história, Davi provavelmente era um homem idoso e as pessoas começaram a se perguntar quem o sucederia. Conforme registrado em 14.25-27, Absalão possuía características que o tornavam um candidato atrativo. Mesmo com Davi reinando, o ambicioso Absalão sonhava usurpar o trono. Absalão começou a comportar-se como rei ao atender as demandas do povo e prometer dias melhores. Quatro anos depois de ter sido recebido pelo rei, e absorvido pelo assassinato Amom,  Absalão viajou discretamente a Hebrom fingindo que precisava cumprir um voto. Ele planeja um golpe de estado, arregimentando um exército de seguidores a seu favor, inclusive Aitofel, conselheiro de Davi (II Sm.15.1-12). Aitofel que já tinha ressentimentos contra Davi, embora nunca houvesse revelado, aproveitou o momento da revolta de Absalão para rebelar-se. Davi quando soube que estava sendo vítima de um golpe por parte do seu filho, juntou seus homens de confiança e fugiu para o deserto. Quando informaram a Davi que Aitofel era um dos conspiradores que apoiavam Absalão, Davi orou: "Ó SENHOR, transforma em loucura os conselhos de Aitofel"(II Sm.15.31).  

OS CONSELHOS DE AITOFEL.

Absalão, era jovem e inexperiente, principalmente em termos de governo e estratégias de guerra. O máximo que Absalão visualizou era ocupar o trono em Jerusalém e tornar-se rei; além disso, não sabia o que deveria fazer, de modo que pediu conselhos a Aitofel (16.20). O primeiro conselho de Aitofel, foi para que Absalão tivesse relações sexuais com as concubinas de seu pai, aquelas que Davi deixou cuidando do palácio (16.21a). O principal objetivo de Aitofel era demonstrar publicamente que Absalão e Davi se haviam separado totalmente, sem chances de reconciliação (16.21b). O conselho de Aitofel tinha um peso de confiança, que era como se fosse a palavra do próprio Deus (16.23). Dias depois de Absalão ter aceito o conselho de Aitofel em coabitar com as concubinas de Davi (16.20,21), ele voltou a consultá-lo para novos conselhos. Neste segundo conselho, Aitofel propôs um plano para acabar com Davi e eliminar totalmente os seus homens, e Absalão assumir o trono de uma vez por todas. Para isso acontecer, recomendou que Absalão escolhesse 12 mil homens, mil de cada tribo, e perseguisse seu pai imediatamente, antes que Davi tivesse tempo de se recuperar da fuga e se abrigar em um lugar seguro (17.1,2). O objetivo principal era eliminar Davi, pois, uma vez morto, suas tropas automaticamente se renderiam e passariam para o lada de Absalão (17.3). Aitofel se dispôs a liderar o exército de Absalão nesse ataque. O conselho de Aitofel pareceu bom e foi aceito por Absalão e pelos anciãos de Israel. Mas, Absalão não estava totalmente convencido, de modo que pediu uma segunda opinião a Husai.

O CONSELHO DE HUSAI E A MORTE DE AITOFEL.

Não totalmente satisfeito com o conselho de Aitofel, Absalão disse: Chamai agora também a Husai, o arquita, e ouçamos também o que ele dirá. E, chegando Husai a Absalão, lhe falou Absalão, dizendo:  desta maneira falou Aitofel. Faremos conforme à sua palavra? Se não, fala tu. Então, disse Husai a Absalão: O conselho que Aitofel esta vez aconselhou não é bom (17.5-7). Trabalhando secretamente para Davi (15.32-37), Husai ofereceu um conselho organizado e persuasivo. Husai propôs um plano alternativo, diferente em todos os aspectos do plano de Aitofel. Onde Aitofel propôs ação imediata, Husai sugeriu ajuntar todos os homens desde de Dã até Berseba (17.11). Ao invés de um exército de doze mil homens, como aconselhou Aitofel, Husai sugeriu mobilizar a nação inteira. Neste caso, o próprio Absalão deveria conduzir o exército, cujo objetivo não era eliminar apenas Davi, mas destruir todos os seus homens (17.12,13).  

Husai sabia que Davi e suas tropas estavam cansados e seu conselho tinha a intenção de dar tempo para que Davi encontrasse refúgio e se reorganizasse, enquanto Absalão reunia um exército nacional. Sugerir que Absalão liderasse o exército, implicava na possibilidade de este vir a morrer. A intenção do conselho de Husai, também era eliminar Davi e toda a sua tropa, mas essa batalha seria feroz, tornando a morte de Absalão mais provável. 

Davi orou ao SENHOR para transformar os conselhos de Aitofel em loucura (15.31). A oração de Davi foi atendida quando Absalão considerou o conselho de Husai mais convincente que o de Aitofel. Apesar de os conselhos de Aitofel serem considerados "como resposta de Deus", nessa ocasião o SENHOR agiu contra ele. Diz o texto sagrado: Vendo, pois, Aitofel que se não tinha seguido o seu conselho, albardou o jumento e levantou-se, e foi para sua casa e para a sua cidade, e pôs em ordem os seus negócios em ordem e depois se enforcou; e morreu, e foi sepultado na sepultura de seu pai (II Sm.17.23). Quando Aitofel soube que o seu conselho havia sido rejeitado por Absalão, ele sentiu-se frustrado, talvez porque tenha sido a primeira vez em muitos anos que seus conselhos não foi seguido. Percebendo que Absalão não sairia vitorioso nesta batalha e, consequentemente ele seria executado por traição, ele optou pelo suicídio. Contudo, antes de morrer, Aitofel pôs em ordem os seus negócios, isto é, designou quem teria parte em seus bens e como eles deveriam ser distribuídos. Como conselheiro real, Aitofel provavelmente era um homem rico. 

Concluímos que, esse episódio nos leva a refletir o quanto o homem pode falhar. Aitofel, mesmo sendo considerado um homem sábio, foi traído pelos seus próprios sentimentos. A sua avareza e a busca pelas aparentes vantagens, o levou a rebelar-se contra o rei, a quem o tinha como fiel amigo. O resultado da sua rebelião foi trágico, ele findou tirando a sua própria vida. Geralmente, os traidores se dão mal e caem em muitas contradições. Para se adquirir confiança, muitas vezes leva tempo, mas para perdê-la é rápido, basta um pouco de insensatez. O sábio Salomão diz: "Assim como a mosca morta faz exalar mau cheiro e inutilizar o unguento do perfumador, assim é para o famoso em sabedoria e em honra um pouco de estultícia (Ec.10.1). Aitofel poderia ter deixado um belo exemplo de fidelidade e um legado positivo às futuras gerações, mas infelizmente, ele prevaricou e pôs tudo a perder. Que possamos extrair lições desta história, e não cairmos nas mesmas contradições que Aitofel caiu. Pense nisso! 

* Alguns parágrafos deste texto foi extraído e articulado da obra, COMENTÁRIO BÍBLICO AFRICANO páginas 400-402.